5.25.2006

Identidade, O Mar, E Rochas

O único porto com origem portuguesa em África de Oeste chama-se São Pedro. Digo isto falando de África francofone, e com a certeza de eu errar. A história de São Pedro segue assim: Os portugueses passaram pela costa de África buscando praias. Pararam em São Pedro por causa da areia. Assim que viram as rochas e a água antipáticas, foram-se embora, dando a praia inútil aos franceses, ingleses e marqueses quaisquer. Tanto fazia. A costa tornou-se rica por escravos, ouro, madeira, café, bananas, ananás e tudo que pode ser chamada «África,» por bom e mau. A costa era chamada Costa de Ouro. São Pedro sobrevive até agora na Costa de Marfim, que também significa riqueza.
Eu conheci São Pedro há muitos anos. Entendo a escolha dos portugueses. A praia é feia, embora seja a melhor do país. Além disso, é perigoso. A água é forte e muitos morreram a nadar lá. Podia ser simpática aos surfistas, porém há rochas partindo as ondas e acabam por ser ameaçadoras. Eu fico a reflectir sobre o mar poderoso e as rochas. Essas imagens tornam-se numa metáfora da vida. Proponho observações através da praia, as rochas, e o mar.

Porque saiu da sociedade?
Porque à nós não contribuia?
Porque perdi a identidade.
Porque o grupo me abusava.


O mar parece-me muito como a sociedade, um poder colectivo. Perde-se identidade. Fica-se na misericórdia das forças maiores. Vai-se à procura de tal poder. Pode-se seguir o corrente do mar, mas não se pode controlá-lo. Gravidade, corrente, tubarões e a água tentam afundar e matar. No mar, há comida, mas por vezes eu torno-me comida de tubarões. No entanto, sociedade, na qual lutamos com consciência da consciência do outro, é ainda mais difícil do que o mar. Cada um luta por si próprio contra o outro apesar de querer sociedade, mas a maioria falha chegar ao topo. O topo raramente dirige como eu dirigia.

Porque sinto-me com alegria.
Porque sinto-me com a tristeza.
Porque sigo-lhes como lideres.
Porque sigo-lhes como altezas.

Ao mesmo tempo, a praia também fica num estado de fluctuação. Bate o sol, anda o vento, faz ondas o mar. Eu não sinto o perigo de afundar. Eu gosto do sítio lindo e quente. Por conseguinte, fico mais alegre. Há mais um problema. Não há comida. Raízes não se faz bem na areia. Tenho de sair da praia para procurar comida. Com a falta da comida e o facto de a areia ser vulnerável, eu sinto-me mais uma vez inseguro. Areia, sendo melhor, é temporal. Preciso de mais. Mesmo assim, fujo por filmes, livros, música, luxo, sono e a própria praia. Todos acabam por não cumprir os desejos.

Porque há tanto contradictório
Porque queria ser indivíduo.
Porque buscava a segurança
Porque não estava na liderança.

Rochas, que são muito firmes, têm problemas horríveis. Rochas não são confortáveis. Busca-se ainda menos comida numa rocha do que na praia. Ainda por cima, trazem imensa solidão. Uma rocha, um refúgio, é muito seguro. No entanto, é quase uma prisão. Tradições, convicções, instituições todas fazem refúgios, mas ficam prisões.

Porque não sei, nem tinha sabido
Porque razão eu ficar pedindo
Porque confusão assim perdido
Porque sair tinha decidido.

Como, enfim, resolver? Eu venho do interior. Alguns querem dizer, «O homem do interior não é assim tão inteligente.» Pode ser. O interior também traz problemas. Para concluir, eu quero (e julgo que todos também querem) duas coisas contradictórias. Preciso de independência e ao mesmo tempo interdependência. Isto é um dos maiores problemas de filosofia. Eu acho que não basta palavras, nem emoções nem sentimentos. Pessoas apresentando si próprias como se fossem capazes de simplificar este problema de eu entre outros enganam si próprias.

Então enfim não tenho saído.
Continuo a nadar contra mão
Não porque crimes tenha cometido,
Mas pelo modo de ser um cristão.

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